Prezados Pastores e Líderes,
Agradecemos apoio e participação na V Aula Magna do IBK, fomos contemplados com uma excelente exposição do Pentateuco Interlinear, pelo seu autor, Prof. Dr. Edson
Francisco de Paula. O evento ocorreu no Dia de
Pentecostes e celebramos a unidade no Espírito Santo com as diversas comunidade
representadas. Aproveito este comunicado e compartilho abaixo texto alusivo a
data de Pentecostes ressaltando os sete dons do Espírito. Que o Senhor nos
abençoe e fortaleça unidade em nossa região.
Fraternalmente,
Pr. Douglas
PENTECOSTES: APRENDER A FALAR MUITAS
LÍNGUAS PARA QUE O MUNDO CREIA
Rev. Ramacés Hartwig
A religião cristã herdou muitas leis (torah) e costumes (festas) da
religião judaica, bem como de outras religiões e culturas também. Algumas foram
esquecidas ou ignoradas e outras, para serem reaproveitadas, passaram por um
novo conteúdo teológico e receberam uma nova roupagem religiosa, ou seja,
sofreram uma "cristianização".
É o caso da Festa do Pentecostes ou da Colheita (que era uma dentre as
três festas judaicas anuais mais importantes, cf. Êx 23:14-19) e que também era
conhecida e celebrada pelos judeus como a Festa das Semanas (Dt 16:9ss). Era
celebrada no final de um período de sete semanas (50 dias) que ia desde o
plantio até o início da colheita dos primeiros grãos (cevada ou trigo). Para
esta festa havia uma "santa convocação" e durante a sua realização
nenhum trabalho servil podia ser realizado, além de que todo o israelita era
obrigado a estar presente. Os preceitos religiosos (liturgia) destas festas
estão descritos claramente (entre outros) em dois relatos: Levítico 23:15-25 e
Deuteronômio 16:9-15 (ambos na Torah). Também havia a Festa dos Tabernáculos
(tendas) que acontecia entre setembro e outubro, porém esta tratava da colheita
de frutas (uvas, tâmaras e figos), ocasião em que os trabalhadores permaneciam
no local, abrigados temporariamente em tendas (de onde se origina o nome desta
festa).
A religião judaica, por sua vez, também se apropriou, adaptou e
continuou alguns costumes agrícolas (e até religiosos) a partir da cultura dos
cananeus (um dos "povos do mar" que habitava a "Terra
Prometida", a Palestina). Esta cultura agrícola também era conhecida de
outros povos orientais, mas especialmente daquelas tribos nômades e
semi-nômades (razão pela qual aproveitavam a sazonalidade das estações para o
plantio e colheita de grãos).
Os hebreus (cuja palavra vem de habiru: habitante do deserto) dentre os
quais algumas tribos deram origem e formaram o "povo de Israel"
(através de uma Liga Sacral) cuidavam originalmente de rebanhos, isto é, eram
pastores de "gado miúdo". Isto pode ser melhor percebido no relato de
Gênesis 4, onde transparece o conflito entre agricultores (Caim) e pastores
(Abel) e, consequentemente, a luta pela posse e domínio da terra agricultável
(período histórico no qual a Bíblia registra a transição do nomadismo para o
sedentarismo).
A Festa do Pentecostes era basicamente agrícola, celebrada com
entusiasta alegria e muitas solenidades, porém, total e exclusivamente dedicada
a Yahweh (Dt 16:10), o Deus da Vida e Criador do Universo. Nesta ocasião
agradecia-se a Deus pelo "dom da terra, das sementes e de seus
frutos" (e por toda a criação divina). Também reafirmava-se o compromisso
de fraternidade entre as famílias e tribos (especialmente hebréias), mas
igualmente renovava-se a solidariedade e a justiça com todos os povos, ou seja,
era uma "celebração ecumênica" onde reinava a partilha e a Paz.
Já a "adaptação e resignificação" da Festa do Pentecostes (que
acontece cinquenta dias após a Festa da Páscoa) para a Tradição Cristã está
registrada no Segundo Testamento, particularmente encontrada em três
referências: I) At 2, II) At 20:16 e III) I Co 16:8. Isso demonstra a
importância e o lugar celebrativo da Festa do Pentecostes (cristã) já no
contexto da Igreja Primitiva e marca a origem de seu desdobramento em
diferentes tradições nos séculos seguintes.
As analogias bíblicas que se referem ao Espírito Santo são múltiplas:
sopro, vento, pomba, dedo de Deus, fogo, parácleto, Espírito da verdade,
Consolador, etc. Isso por si só já demonstra uma grande variedade não só de Sua
"apresentação e presença", bem como do variado entendimento e
distinta percepção que as diferentes comunidades cristãs faziam da
"terceira pessoa da SS. Trindade" desde os inícios do cristianismo.
A Festa do Pentecostes que a Igreja de Jesus, o Cristo de Deus, celebra
nos dias de hoje está ligada basicamente ao relato de São Lucas no capítulo
dois do livro dos Atos dos Apóstolos. Neste texto (At 2:1-13) em que pesem as
diferentes interpretações exegéticas e as possíveis variações linguísticas das
traduções, o fenômeno que lá ocorreu de alguma maneira mexeu e transformou a
vida daquelas pessoas que estavam reunidas no Tabernáculo, pois, "cheios
do Espírito Santo começaram a falar em outras línguas" e houve grande
alarido porque cada um os entendia na sua própria linguagem. A partir deste
evento elas nunca mais foram as mesmas e o mundo todo passou a conhecer a
mensagem de Jesus Cristo. Este acontecimento é considerado a "fundação da
Igreja" e a ocasião em que Seus discípulos/as compreenderam Sua Boa
Notícia e p assaram a colocar em prática a ordenança evangélica de seu Mestre:
Ide por todo o mundo... (Mt 28:19ss).
É oportuno traçar aqui um paralelo com o relato da Torre de Babel (Gn 11:1-9).
Neste evento o fenômeno acontece ao contrário, ou seja, todos falavam a mesma
língua e tinham um único propósito: "construir uma torre para chegar ao
céu, ficarem famosos e não serem espalhados pelo mundo". Entretanto, houve
uma grande confusão (significado da palavra babel) e tudo aconteceu exatamente
ao contrário do que eles pretendiam.
Por isso, o fenômeno de Pentecostes (línguas de fogo) diferentemente do
"fenômeno da confusão" desafia a Igreja de hoje também a "falar
todas as línguas" para que o mundo creia que Jesus Cristo é o Filho de
Deus. Ou seja, para que a mensagem do Evangelho seja universal e o Reino de
Deus implantado "aqui e agora", as maravilhosas obras do Espírito
Santo devem acontecer para o mundo através da vida dos cristãos e cristãs de
hoje.
Ao lado de muitas outras referências ao Espírito Santo, têm relevância e
grande significado a que se encontra registrada em S. João 20:22 depois Jesus
soprou sobre eles e disse: recebam o Espírito Santo! Com esta unção emanada do
próprio Cristo de Deus é que os cristãos e cristãs estão revestidos de
"poder do Alto" para anunciar ao mundo que o Reino de Deus chegou e,
para isto, estão habilitados/as a testemunhar com temor e tremor os sinais que
implementam de fato e ratificam na prática a veracidade de sua pregação e fé.
Como professa o Credo Niceno (325, ad): "Cremos no Espírito Santo,
Senhor, Doador da Vida, procedente do Pai e do Filho; o qual com o Pai e o
Filho juntamente é adorado e glorificado". Por isso esta "pessoa
divina da SS. Trindade" é reconhecida como "santo por Sua
natureza" e "santificador por Sua ação".
Todos os batizados/as (em nome da Trindade) receberam o Espírito Santo e
por isso em sua vida e ministérios devem demonstrar que são portadores dos
"sinais espirituais" reconhecidos na Tradição Cristã como os Sete
dons do Espírito Santo:
1 - Sabedoria: conduz a pessoa ao amor intenso e total a Deus
demonstrado na defesa incondicional da Vida em toda sua plenitude e com zelo
por toda a Criação Divina;
2 - Inteligência: leva a pessoa a crer para entender e viver a verdade,
a justiça, a solidariedade e a paz capacitando-a a construir um "outro
mundo possível";
3- Conselho: capacita a pessoa para o diálogo e para o respeito ao
Outro/a, fazendo com que aceite e conviva com a diferença e com o diferente;
4- Ciência: capacita o ser humano com habilidades para inventar,
recriar, adaptar, transformar e descobrir novas formas e fórmulas que respeitem
e mantenham a vida;
5- Fortaleza: fortalece nas pessoas o senso bom do amor, da fé e da
esperança através dos quais revigora sua fé para a luta por um mundo mais
fraterno e justo;
6- Piedade: capacita a pessoa a "colocar-se no lugar da
outra/o" fazendo a ele/a todo o bem que gostaria que fizessem a si mesmo;
7- Temor a Deus: este dom revela o quanto Deus ama Suas criaturas e por
elas e toda a Sua criação entregou Seu próprio e único Filho para que todos
vivêssemos em plena harmonia e total felicidade.
É bom lembrar que o número sete no contexto bíblico significa
universalidade, totalidade, perfeição e, por isso, estes "sete dons"
devem vir acompanhados dos frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência,
bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio próprio (Gl 5:22-23). Estes
frutos não só os complementam os dons como permitem que através deles os filhos
e filhas de Deus sejam conhecidos, como Jesus afirma: "pelos seus frutos
os conhecereis" (Mt 7:16ss)."
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